quinta-feira, 2 de julho de 2009

Num mundo nem tão paralelo assim...!

Era uma noite chuvosa. Nada de se estranhar, comparando-á as anteriores. Típico frio. Ar seco. Transito em São Paulo. A mãe, sem prever um horário especifico para o retorno das compras de final de ano, que fizera com seu marido, pede para o mesmo 'dar uma paradinha' no primeiro telefone público que avistasse, pois queria avisar a Sofia que chegaria tarde, e esquecera de carregar o celular com créditos, pela menhã. Neste mesmo momento autoridades mal intencionadas procuram por alguém inocente o suficiente, para um mórbido plano de "transferência criminal". Afinal, alguém precisaria levar a culpa.
Eles discutiam enquanto os outros carros passavam ao lado, lentamente. Muitos Carros. Milhares deles. Mas aquele dia não era um bom dia para Julie e Nicolas Saírem de casa. Não era um dia para compras.

O guarda faz um sinal estranho. A chuva já esta passando. Ele era alto, e sua expressão lembrava alguém que não tinha muitas alegrias, imaginou Nicolas ao sair do carro, obedecendo a ordem proferida pela boca daquele policial.
- Seus documentos. Disse o guarda.
- Claro, senhor, aqui estão!
- Esta tudo em dia?
- Sim sim. 'Graças a Deus'. Acreditava Nicolas
Porém Deus parece estar em 'hora de descanso' quando o guarda enfim diz a Nicolas que ele terá de esperar só mais um pouco, até poder ser liberado.

Enquanto Julie aguarda no carro a liberação de seu esposo, recebe um telefonema no celular. Era sua filha. Queria saber se tudo corria bem, aproveitando para avisar que não dormiria em casa esta noite. Era festa em algum lugar do bairro vizinho, e preferiria dormir na casa da amiga, à voltar sozinha, na madrugada.

Engraçado mesmo, é a forma como as coisas acontecem. O universo de cada pessoa, nesta pequena teoria, não é algo paralelo, muito menos estático. Designa linhas ou superfícies que conservam sempre a mesma distância em toda a sua extensão, e que em algum momento desse percurso, desse caminho, se encontram, mesmo que indiretamente. Mesmo que uma das linhas venha apenas para causar e determinar algum tipo de influência na outra. Em outras palavras, tudo é interligado! As decisões que tomamos aqui, afeta a vida de pessoas que nunca vimos ou conhecemos. "O simples bater de asas de uma borboleta, pode causar um tufão do outro lado do mundo" É um ciclo ande tudo retorna. Independe de nossa vontade.

Julie, ao falar com a filha no telefone, faz com que seus olhos se distraiam por alguns segundos, desviando a atenção de seu marido. Quando deu por si, ele já não estava la fora, na companhia do guarda. Ela ouve gritos. Ela sai do carro, ele esta sendo algemado. Fora encontrado no porta-malas de seu veículo a arma de um recente assassinato, cujo o suspeito principal passara a ser Nicolas, evidentemente pelos fatos finais.
Uma policial logo algema Julie que, no mínimo, seria uma possível cúmplice. E, sem responder nenhuma de suas indagações e questionamentos sobre o que estava acontecendo, a coloca noutra viatura, a encaminhando para qualquer outro lugar fora dali. Seriam presos.

Com o passar de um determinado tempo - o suficiente para toda aquela novidade se esclarecer um pouco na cabeça de todos - Nicolas compreende um pouco melhor, fazendo alegações que tiraram Julie da mira, mas que não puderam alterar em nada seu estado.

Engraçado mesmo, é a forma como agimos diante de uma situação que não nos cabe uma decisão. É difícil olhar e perceber, que nada se pode fazer para se livrar do matadouro. Só se pode esperar. Mas não se pode dizer com certeza o que é pior - Lutar mesmo assim, coagido pela esperança e mobilizado pela vontade de vencer, ou entregar-se de vez, a uma causa que não se tem como ganhar - porque temos maneiras diferentes de lidar com os momentos, com as fases. Interpretamos, cada um, diferentemente as provações da vida. Somos todos iguais nessa diferença. Todos imprevisíveis...

Julie estava linda! Não dormira na noite passada. A ansiedade não lhe permitira de forma alguma. Pôs-se de pé logo cedo, antes da luz invadir o seu quarto através da janela, que se despedia da Lua, que logo iria ceder seu lugar de trono ao Sol, pois ele não tardaria a chegar. Sofia estava no banho, o telefone toca. Era o advogado. Veio informar que a testemunha havia desistido. Não podia se arriscar tanto. Tinha medo.
Julie e Sofia estavam prontas. Ambas refletião o pesar do compromisso. Era o dia do julgamento de Nicolas, depois de quase um ano aguardando. Ao chegar no tribunal, ao se sentar naqueles bancos, ao visualizar a palidez e o semblante caído do réu, Julie não se aguentou firme, e debruçando no ombro de sua filha, chorou.
O tempo se passava, e a inquietude só aumentava. Julie conhecia seu marido. Apenas se fazia de forte. Apenas interpretava um personagem que dizia estar tudo bem com o olhar. Mas se ela olhasse bem, podia ver sua alma gritando, desesperadamente, semelhantemente a um lobo, porém no lugar da ovelha indo para o matadouro. Sim, ela o conhecia.

- Culpado! Condenado! Disse o Juiz, que provocou um turbilhão de sentimentos que até hoje nenhuma das três vitimas soube definir... Desencadeou a mais intrínseca dor, que não tem definição, e que as proporções chegam a ser infinitas! Eis que naquele dia, uma espécie de maldição prometia acompanhar a vida daquela família para sempre! Estariam condenados a eternizar uma pergunta que jamais, na história da humanidade, foi respondida de maneira lógica: PORQUE?!!?!

Porque estavam ali naquela hora? E porque acontecerá com eles? Qual o motivo que levou o sofrimento e a angustia repousar naquela casa? A cota de felicidade que se pode ter por vida havia se esgotado? A honestidade daquele homem afetou a ordem que rege o mundo, por isso ele não poderia continuar seu caminho, sem machucar ninguém? Era algum tipo de aprendizado que ele precisava ter aqui em sua existência? A verdadeira questão é que nada do que venha a ser indagado, poderá ser esclarecido...

. . .

Com o passar dos anos, Julie morreu. Uma doença que tinha desde menina se agravou sem motivo aparente, ou sem no mínimo um diagnóstico aceitável dos médicos. Parecia ser o fim para aquela família. Mas isso, não é ela quem decide. Não estava nas mãos de ninguém, ou simplesmente estava nas mãos de todos os outros, que batiam suas asas do outro lado do mundo. que faziam conseqüências irreversíveis aqui, do lado.




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Engraçado mesmo é pensar que se ao menos um fator insignificante tivesse feito com que eles desviassem a rota, ou tão somente os fizesse atrasar alguns poucos minutos para passar por aquele caminho, por aqueles policiais (que não poderiam forjar o crime pra cima da vítima) , todo o destino de toda uma família seria diferente. A quem diga que destino é sinonimo de não ter opção. Há quem protesta, dizendo que destino é a conseqüência das atitudes que tomamos hoje, e que se acumulam e somam-se ao nosso futuro. De certa forma as duas estão corretas. Foi escolha do policial condenar aquela família, ao mesmo tempo em que Nicolas não teve sequer uma chance para 'escolher uma outra escolha'.


. . . .


Texto por Jefferson Almeida
História vinda apenas da minha cabeça. Ou não.
inspiração fértil! (:

3 comentários:

  1. Me emocionei...
    acho que conheço essa história.
    Jeff, eu acho que ninguém vai entender tão bem essa história igual eu!

    esse texto mexeu comigo.

    se me permitir eu gostaria de postar no meu blog.
    obrigada.

    estou sem palavras...
    falndo nisso eu preciso escrever p/ meu pai.

    beijos

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  2. Pois é... Num mundo nem tão paralelo ao meu, a gente se falaria hoje, se tivessem me permitido falar com você ao telefone, ao invés de desligarem na minha cara.

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  3. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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